[RECIFE/PE] Lançamento da n-1 edições (SP), traz o filósofo e professor Peter Pál Pelbart à Recife neste próximo dia 18 de outubro.
outubro 18, 2019Por Maumau Galeria
A
Galeria Maumau recebe, na sexta 18 de outubro, a partir das 19h, o
lançamento no Recife de três livros da n-1 edições: Rutpura (do
coletivo anônimo Centelha); Ensaios do Assombro (de Peter Pál
Pelbart) e Às voltas com Lautreamont, de Laymet Garcia dos
Santos.
Fundada
em 2011, a n-1 edições chegou ao cenário editorial através da
produção de livros-objeto numa área transdisciplinar, entre a
filosofia, o teatro, a estética, a literatura, a antropologia e a
política, abordando os problemas contemporâneos de maneira plural e
aguda, relançando-os em novas direções.
A partir das 20h a cineasta e pesquisadora Mariana Porto irá conversar com Peter Pál Pelbart sobre o novo livro, Ensaios do Assombro, assim como mediar esse bate-papo com o público presente.. Além disso, uma ação sonora coletiva acontecerá em um dos ambientes da galeria.
A partir das 20h a cineasta e pesquisadora Mariana Porto irá conversar com Peter Pál Pelbart sobre o novo livro, Ensaios do Assombro, assim como mediar esse bate-papo com o público presente.. Além disso, uma ação sonora coletiva acontecerá em um dos ambientes da galeria.
Mamas
Bar Lar estará com comidas e drinks e o quintal da maumau ocupado
por músicas trazidas por Abel Alencar, Caetano Costa e Guto Conde.
Um pouco sobre cada livro:
RUPTURA/Centelha
(Coletivo
Anônimo)
Nossa
democracia não está no passado, pois ela não pode estar onde nunca
existiu. O fascismo sempre foi a reação desesperada contra a força
de uma revolução iminente no horizonte. Se ele voltou agora é
porque o chão treme, é porque as fendas estão por toda parte.
Ouçam como treme o chão, como há algo que quer atravessar o solo.
Não nos deixemos enganar novamente, vivemos uma contrarrevolução
preventiva que não temerá nenhum nível necessário de violência
para nos calar, que rasgará todos os disfarces para agir mais
livremente. O momento é mais decisivo do que alguns gostariam de
acreditar. Só governos fracos são violentos, eles têm de vigiar
todos os poros, pois sabem que seu fim pode vir de qualquer lugar. O
que se contrapõe a nós é fraco e desesperado. Ele cairá. É hora
de fazê-lo cair.
ENSAIOS
DO ASSOMBRO
Peter Pál Pelbart
Peter Pál Pelbart
O
culto da força e da vitória, da hierarquia e do comando, da
propriedade ou do Estado, implica na defesa de uma forma de vida
exclusiva e excludente. É nas antípodas disso que seria preciso
tornar a ouvir o termo vida. Para ficarmos numa formulação feliz de
Lapoujade: não permanecer na fraqueza de cultivar apenas a força,
porém ter a força de estar à altura da própria fraqueza. A vida
assim concebida é justamente aquela que “escapa” à modulação
biopolítica e à tanatopolítica que lhe é correlata. Para retomar
termos já conhecidos, trata-se de uma vida não-fascista. Mas como
reativá-la na atual conjuntura?
É preciso reconhecer, antes de tudo, que uma movimentação de placas tectônicas nos últimos anos colocou em xeque de modo irreversível hierarquias tradicionais de raça, gênero, espécies, saberes, culturas. Não espanta que isso tenha suscitado crispações morais e religiosas as mais reativas. Contudo, ao lado do assombroso tsunami político daí resultante, novos modos de persistência aparecem, com laivos de êxodo ou desconexão, desmontagem e destituição, revelando linhas de força e de fuga antes desconhecidas. Por mais que a reação política, midiática, jurídica tenha tentado calar ou esmagar tais manifestações dissidentes, elas perfazem uma trajetória e deixaram no ar vários signos e vestígios que este livro se propõe a acompanhar.
É preciso reconhecer, antes de tudo, que uma movimentação de placas tectônicas nos últimos anos colocou em xeque de modo irreversível hierarquias tradicionais de raça, gênero, espécies, saberes, culturas. Não espanta que isso tenha suscitado crispações morais e religiosas as mais reativas. Contudo, ao lado do assombroso tsunami político daí resultante, novos modos de persistência aparecem, com laivos de êxodo ou desconexão, desmontagem e destituição, revelando linhas de força e de fuga antes desconhecidas. Por mais que a reação política, midiática, jurídica tenha tentado calar ou esmagar tais manifestações dissidentes, elas perfazem uma trajetória e deixaram no ar vários signos e vestígios que este livro se propõe a acompanhar.
ÀS
VOLTAS COM LAUTREAMONT
Laymert Garcia dos Santos
Laymert Garcia dos Santos
Há
entretanto aqueles que escrevem para aceder ao silêncio e não para
expressar-se, para curto-circuitar o pensamento e não para pensar,
para desaparecer e não para aparecer. Escrever torna-se atividade
que se exerce em outra dimensão, escrever é o movimento de um
sopro, que se funde, se confunde com sua fonte, que é vida, isto é,
poesia em ação. Escrever, então, escapa à literatura e aos
profissionais da expressão, escapa à lei e à culpabilidade.
Tais homens, a que a rigor a tradicional noção de autor nem mais se aplica, deixam obras desconcertantes.
A regra é a literatura, a regra é o caso dos homenzinhos que gostam de escrever. Há uma exceção que se subtrai às regras. Como perceber a exceção se não é possível considerá-la nos termos a que nos habituaram a literatura e a crítica? Num curto texto sobre Lautréamont, Henry Miller sugere uma via: a análise dos ingredientes e da construção da obra não ensinam nada. “Alguém crucificou-se: isso é o que conta”. Crucificou-se, assumiu o mal em toda a sua extensão e diversidade, no momento em que o mundo inteiro degringolava – embora ainda secretamente, no inconsciente. Alguém crucificou-se deixando, na expressão de Miller, uma bíblia negra, onde se lê: “Não estamos mais na narração. […] Ai! agora chegamos ao real, no que diz respeito à tarântula.”
Tais homens, a que a rigor a tradicional noção de autor nem mais se aplica, deixam obras desconcertantes.
A regra é a literatura, a regra é o caso dos homenzinhos que gostam de escrever. Há uma exceção que se subtrai às regras. Como perceber a exceção se não é possível considerá-la nos termos a que nos habituaram a literatura e a crítica? Num curto texto sobre Lautréamont, Henry Miller sugere uma via: a análise dos ingredientes e da construção da obra não ensinam nada. “Alguém crucificou-se: isso é o que conta”. Crucificou-se, assumiu o mal em toda a sua extensão e diversidade, no momento em que o mundo inteiro degringolava – embora ainda secretamente, no inconsciente. Alguém crucificou-se deixando, na expressão de Miller, uma bíblia negra, onde se lê: “Não estamos mais na narração. […] Ai! agora chegamos ao real, no que diz respeito à tarântula.”
Sobre
a n-1 edições
“Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós.” Franz Kafka, carta a Oscar Pollak, 1904
Nossos livros são pequenos torpedos, cuja finalidade é explodir dentro de nós e arrebentar nossa sensibilidade embotada. Só assim seremos capazes de redesenhar nosso entorno, relações, atitudes, emoções. Nossa ambição é devolver ao livro a potência disruptiva que lhe pertence. É resgatar a força do pensamento, e sua capacidade de mover montanhas. Por isso, começamos pela filosofia, mas não aquela, careta, acadêmica, que apenas serve aos poderes instituídos, mas aquela outra, que se alia aos movimentos minoritários do mundo: autistas, esquizos, mulheres, negros, indígenas, prisioneiros, animais, vozes silenciadas. É preciso sustentar a polifonia do mundo, as muitas maneiras de viver que pedem passagem.
Tentamos escapar dos circuitos perversos, que transformam livros em mera mercadoria.
Por isso, nossos livros acontecem e são lançados sobretudo em eventos em que mesclam falas, filmes, performances, música – em suma, intervenções poético-políticas vivas.
O lançamento desses três livros no Recife, portanto, só poderia acontecer, acontecer na Maumau, espaço que dá passagem a tudo isso.
Sobre
o autor e a mediadora
Peter Pál Pelbart: Nasceu em Budapeste, na Hungria, e graduou-se em filosofia pela Universidade Paris IV (Sorbonne). Vive em São Paulo, onde é professor titular na PUC/SP, no Departamento de Filosofia e no Programa de Pós Graduação em Psicologia Clinica (Nucleo de Subjetividade). Estudioso de Deleuze, traduziu para o português algumas de suas obras. Escreve principalmente sobre loucura, tempo, subjetividade e biopolitica. Publicou alguns livros. É membro da Cia Teatral Ueinzz e coeditor da n-1 ediçoes.
Mariana Porto: É doutoranda do Programa de pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) da Universidade federal de Pernambuco pesquisando jogos audiovisuais para grupos. Diretora, roteirista e professora ligada ao audiovisual. Graduada em Psicologia (Universidade Federal do Ceará, 2002. Possui Mestrado em Artes Cênicas (Universidade Federal da Bahia, 2007), pesquisando o documentário e a alteridade “popular”. ). Dirigiu, roteirizou e montou 3 curtas-metragens de sua autoria e também atua como pesquisadora e roteirista para séries de TV. Participa de diversas comissões de seleção e curadoria de editais e festivais de Cinema. Atua como educadora e coordenadora pedagógica de formações audiovisuais em contextos comunitários e no ensino superior.
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