[RECIFE/PE] O sagrado dos terreiros no olhar de Roberta Guimarães
maio 27, 2019Por Marcela Alves / Diálogo Comunicação
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Foto: Roberta Guimarães |
A
fotógrafa lança exposição Agô no Recife. Em cartaz até 02 de junho.
Em
tempos de intolerância por que passa o Brasil, a força da
palavra Agô – que no idioma iorubá significa
“com licença” – traduz com fidelidade as imagens da fotógrafa
pernambucana Roberta Guimarães. Inédita no Recife, a
exposição traz 40 fotografias, vídeos e informações sobre
terreiros de xangô de Pernambuco, conduzindo o olhar para a
diversidade, combate ao preconceito e reafirmação dos direitos
humanos. A exposição segue até 2 de junho, no Museu do
Estado (Sala Lula Cardoso Ayres, 1º andar). A entrada é o valor de
acesso do museu: R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).
As
imagens são o resultado de mais de três anos de pesquisa feita pela
fotógrafa, em 14 terreiros de xangô de Pernambuco, trabalho já
registrado no livro “O Sagrado, a pessoa e o orixá”, lançado em
2013, no Recife. São apresentadas imagens que mostram as
particularidades dos rituais, respeitando a tradição e a
religiosidade.
Algumas
sessões fotográficas exigiram mais de 12 horas de trabalho
seguidas, acompanhando rituais extremamente minuciosos, como o Ebó
das Águas, em que o adepto passa por uma preparação, vai se banhar
num rio e depois retorna ao terreiro para finalização da cerimônia.
A
curadoria é do antropólogo Raul Lody, um dos mais reconhecidos
especialistas em cultura afro do país. Formado em
Etnografia e Etnologia pela Universidade de Coimbra, é doutor pela
Universidade de Paris e responsável por dezenas de estudos na área
das religiões afro-brasileiras.
“Esta
é uma experiência artística, estética e etnográfica sobre o
xangô pernambucano, numa leitura fotográfica de Roberta Guimaraes”,
diz Lody, ressaltando que o trabalho caminhou nos muitos momentos do
sagrado de matriz africana, que se mostram nos rituais, cores,
formas, texturas. “Um depoimento visual emocionado que chega com
imersões profundas nas muitas interpretações sobre este patrimônio
de fé”, explica.
Para
a fotógrafa Roberta Guimarães, seu trabalho – apresentado em João
Pessoa há cinco anos – traz, de fato, importantes questões
humanas, como respeito e solidariedade. E, ainda, um
alerta sobre os caminhos percorrido pelo país. “O xangô faz parte
da nossa identidade, da nossa cultura, e nos ensina sobre amor, afeto
e tolerância. Agôchama para essa reflexão”,
completa. A mostra tem produção executiva da Imago e da Janela
Gestão de Projeto.
Conexão –
A exposição conecta as fotografias ao mundo digital dos vídeos. No
meio do espaço com as fotos haverá uma projeção com imagens dos
elementos da natureza que representam os orixás. Ao percorrer a
mostra, vários vídeos vão se entrelaçando na narrativa,
reforçando princípios como respeito, abordando questões como de
gênero.
Em
um deles, com imagens de Roberta e edição de Pedro Andrade (Jacaré
Vídeo), é mostrada a transformação –crossdressing -
de dois filhos de santos em divindades de sexo oposto.
Outro
vídeo traz a interpretação dos Itãs (contos de tradição iorubá,
que abordam os feitos dos orixás), com narração da contadora de
histórias Kemla Baptista, criadora do “Caçando histórias”,
iniciativa que promove atividades lúdicas em comunidades de
terreiro. Participa também da narrativa o cantor e
compositor Jr. Black, que começou com a banda recifense Negroove e
possui parcerias artísticas com China, Mombojó, DJ Dolores, Bande
Dessinée, entre outros. O material tem produção de Hugo Coutinho e
Pedro Andrade (Jacaré Vídeo).
Com
18 minutos, em uma dobradinha da própria Roberta com o também
fotógrafo Breno Laprovítera, e áudio de Pedro Andrade (Jacaré),
uma projeção apresentará o dia-a-dia dos terreiros, dos rituais e
entrevistas com filhos e pais de santos falando sobre suas relações
com a religião. Neste vídeo, o fio condutor é a profunda
relação da religião com a natureza, que transcende dos atos
religiosos para o cotidiano de seus seguidores.
Educação –
Durante a mostra haverá um projeto de Arte Educação desenvolvido
por Kemla Baptista, com a concepção colaborativa de Bruna Rafaella.
Serão visitas guiadas direcionadas a pessoas com deficiência visual
e auditiva. O trabalho é feito em parceria com o Instituto de Cegos
e o SUVAG.
Acessibilidade -
A exposição contará com áudiodescrição para as fotos expostas,
com libras,e legendas LSE nos vídeos. A empresa
responsável é a Com Acessibilidade Comunicacional, de
Liliana Tavares.
A
exposição terá desdobramento positivo também para a Fundação
Joaquim Nabuco, referência em pesquisa da cultura afro no Nordeste.
Serão doadas para o acervo da Fundaj, 20 imagens disponíveis na
mostra (em formato digital).
Carreira –
Com mais de 20 anos de experiência, Roberta Guimarães é formada em
Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e
cursou Fotografia no Instituto Superiore di Fotografia de Roma
(Itália). Tem ainda especialização em Estudos Cinematográficos
(Unicap). Atuou como repórter fotográfica na Folha de Pernambuco e
no Jornal do Commercio. É diretora e sócia fundadora da Agência
Imago. Entre outros trabalhos de Roberta estão os livros “É do
coco é do coqueiro”, “Eu vi o mundo e ele começava no Recife”
e “Olaria Ocre”, em parceria com os artistas Dantas Suassuna e
Joelson Gomes.
Em
2013, lançou, no Recife, o livro “O Sagrado, a pessoa e o orixá”,
trabalho que resultou na exposição Agô, que teve estreia, em
2014, em João Pessoa.
A
fotógrafa participou, também, de diversas mostras no Recife, em
outras cidades e fora do país. Entre as exposições, Interpress
Photo O Homem e a Vida (Prêmio medalha de prata Man and Life,
1991); II Salão FINEP de Fotojornalismo( Rio de Janeiro, 1995);
Causas da Mortalidade Infantil em Pernambuco ( UNICEF Teatro Nacional
de Brasília, 1996), VI Festival Mundial do Minuto ( SESC - SP –
1996) Projeto Lambe-Lambe ( ICA - Londres, 1997), Un Paisaje de
identidad Cultural (fotos do Rio São Francisco, Salamanca-
Espanha, 2005).
SERVIÇO:
Exposição Agô
Local: Museu
do Estado de Pernambuco (Sala Lula Cardoso Ayres, 1º andar) - Av.
Rui Barbosa, 960 - Graças, Recife
Em
cartaz até 2 de junho de 2019
Visitação:
de terça-feira a sexta-feira: das 9h às 17h |Sábados e
domingos: das 14h as 17h | Fechado às segundas
Entrada
R$ 6 (inteira) e R$ 3 (meia).
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