[ Recife/PE ] Contradições sociais brasileiras na visão de Ricardo Labastier
novembro 15, 2017Por Marcia Guenes / Diálogo Comunicação Integrada
Assucar entra em cartaz no dia 14 de novembro na Arte Plural Galeria (APG)
Vermelho é uma cor que traduz sentimentos díspares com força única. Simboliza paixão, ira, violência e, imageticamente sanguínea, reforça o pulso do viver. Mostrar esse universo de sensações a partir de inspirações pautadas nas contradições sociológicas do país foi o desafio do fotógrafo Ricardo Labastier, que lançou terça-feira (dia 14 de novembro), em vernissage na Arte Plural Galeria, seu novo trabalho: “Assucar”.
O nome da mostra é uma metáfora sobre a formação social brasileira, na qual a cana de açúcar teve grande relevância. O assucar – grafia original do produto açúcar – lembra o fotógrafo, está ligado à monocultura que, segundo pesquisadores e sociólogos, foi uma das grandes pragas do Nordeste, formando uma sociedade colonialista, predatória e sanguinária.
O público poderá conferir a exposição de 15 de novembro até o final de dezembro, de terça a sexta, das 13h às 19h; e aos sábados, das 16h às 20h. A mostra tem curadoria do professor José Afonso Chaves. O acesso é gratuito.
Contrastes – “Assucar” pulsa o olhar desde o primeiro instante ao peregrinar por visões múltiplas que buscam entender a beleza de um povo construído sob a bandeira da miscigenação. Mas, segundo o artista, carrega uma série de equívocos e controvérsias. Tudo isso é expresso com a força da cor vermelha, representando o calor humano, a paixão; mas também a violência, o sangue derramado.
A mostra reúne 17 trabalhos produzidos desde 2015 com a experimentação de técnicas, sendo a fotografia utilizada apenas para perenizar o resultado final. O processo criativo vem com placas de vidro usadas como base para o derretimento de velas, posteriormente raspadas, dando lugar a uma nova criação. A elas se incorporam elementos diversos como cordas, linhas, fotografia, guias e fitas utilizados na composição de cada imagem. Depois de captada a imagem, a placa é destruída e as velas são derretidas novamente para composição de uma nova imagem.
“Essa mistura e contrastes são o retrato do Brasil, formado sob o tom de extremos, sob o sangue de índios e negros, com o fervor do catolicismo e da religiosidade africana”, diz Labastier. Assim, justifica o uso de símbolos como armas, terços e moedas, numa ampla representação cultural da religião, das conquistas, festas e poder. O trabalho retrata a formação brasileira e dialoga com o presente, com ícones que refletem até hoje na maneira como nos entendemos enquanto povo.
Na carne – O olindense Ricardo Labastier nasceu em 1972. Começou na fotografia aos 18 anos. Aos 23, seu trabalho foi selecionado para integrar o I Salão Nacional de Fotografia da Paraíba. Desde então atua no cenário nacional e internacional de fotografia realizando suas experiências artísticas e editoriais. Faz parte da Coleção Pirelli/Masp de Fotografia Brasileira (MASP) e MAMAM – Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães, além de acervos particulares. Já participou como convidado em diversos festivais de fotografia na Espanha, Holanda, Bélgica, Uruguai, São Paulo e Minas Gerais e outros locais.
Em 2015, esteve na Arte Plural com a mostra “Abismo da Carne” sua primeira exposição em Pernambuco, sua terra natal. A mostra já havia passado pela DOC Galeria (São Paulo) e também pelo festival FOTOGRAMA:13, de Montevidéu (Uruguai), e o Festival de Fotografia de Tiradentes (MG). O projeto foi contemplado com o XIII Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia (2013) e resultou no livro “Abismo da carne” (Olhavê/Tempo d'Imagem, 2014).
A Arte Plural – Comprometida em levar cultura ao público, a Arte Plural está instalada no Recife Antigo desde 2005, com mais de sessenta exposições realizadas. Além disso, realiza mensalmente o projeto Gerações Musicais, que une músicos de diferentes gerações para uma conversa sobre música, carreira, projetos para o futuro, além de uma palhinha dos artistas de alguns de seus sucessos.
O curador – José Afonso Chaves é Doutor em Sociologia (2010) e Mestre em Ciência Política (2002) pela Universidade Federal de Pernambuco. Com Licenciatura Plena em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco (1998) é Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da UNICAP (Mestrado e Doutorado, nível 4). Membro do Grupo de Pesquisa Estudos Transdisciplinares em História Social.
SERVIÇO
Exposição “Assucar” de Ricardo Labastier
Na Arte Plural Galeria (Rua da Moeda, 140, Bairro do Recife – Recife (PE)
Aberta ao público a partir de 15 de novembro – terça a sexta, das 13h às 19h; sábados, das 16h às 20h;
Entrada franca. Informações: 3424.4431
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