Exposição inédita no Centro Cultural dos Correios traz à luz após 40 anos incrível retrospectiva da artista Morgan-Snell e apresenta cerca de 70 obras que mostram sua originalidade e seu vanguardismo. 

“Gosto especialmente de raios, sinto-me filha do fogo e da tempestade. De resto, tudo me comove...” Morgan-Snell

O Centro Cultural dos Correios apresenta, a partir do dia 05 de outubro (quarta-feira), a mostra de uma artista considerada um caso à parte no mundo da arte, Morgan-Snell, e apresenta cerca de 70 obras selecionadas pelo curador Marc Pottier, sobre seu trabalho em desenho, pintura e escultura considerado original e vanguardista. A mostra fica ambientada na Instituição até 04 de dezembro.

Após quatro décadas a exposição dá a oportunidade de o público revisitar a produção desta artista única, onde o corpo está no âmago do seu trabalho e o nu se faz presente de forma marcante.  Artista figurativa e de formação autodidata – o que soa estranho para alguém de seu estrato social – sempre conviveu com a alta sociedade de Paris, Rio e São Paulo. Aprendendo através de observação, sua primeira exposição foi realizada em 1946, na Galeria Barcinski, no Rio de Janeiro. Pertencente à burguesia industrial brasileira Morgan-Snell foi uma rebelde que não se submeteu às tendências de sua época. Seus temas originam-se na mitologia grega, na Bíblia, na Divina Comédia e no Inferno de Dante. Homens e mulheres, quase sempre presentes, evoluem num universo libertado das leis da gravidade.

A obra excepcional de Morgan Snell superou sua própria criadora. Embora ausente dos grandes movimentos artísticos que dominaram o século XX, sua produção figurativa, supra-realista, com elementos do maneirismo e a celebração do corpo, se juntam hoje às áreas de vários movimentos de criação. Cabe aos analisadores do século XXI decodificar seus cenários que são provavelmente muito menos clássicos do que deixam pressentir à primeira vista.

A vivacidade das cores que ela usava em suas obras era uma vibrante homenagem à plumagem de todas as aves que sempre a cercavam em seu estúdio. Segundo ela, as aves lhe proporcionavam a música para sua criação. Até hoje é possível constatar que algumas marcas de seus companheiros estão até hoje presos na espessura de sua pintura. Sua brasilidade foi representada em sua obra e a acompanhou mesmo quando se mudou para Paris após seu casamento, por volta de 1947-48. Ainda que suas fontes de inspiração variem de Tiepolo a Michelangelo passando por Rubens, seu trabalho nunca deixou de expressar essas referências. Por exemplo, em sua obra 'A Virgem de Pentecostes', um índio de porte atlético homenageia o continente sul-americano e expressa a sensualidade permanente da sua obra.

Um elemento importante que define a obra de Morgan-Snell é o traço, com o corpo como paixão, usando linhas cósmicas que dão eternidade a seus personagens, uma espécie de erotismo na espátula. Grande inventora de padrões e criadora de aspectos, a obra de Morgan-Snell é figurativa, mas também capaz de expressar o irreal. Em sua correção plástica, o desenho de Morgan-Snell remete a um classicismo sobre o qual não se pode enganar. Incisivo, mordaz, muitas vezes no limite da indecência, o traço exibe um realismo cuja ambivalência redobra o poder do artista. A precisão clínica do traço é indissociável de uma sensualidade tendendo uma e outra a comunicar uma emoção que nunca é em detrimento do pensamento. É para esse prazer que a obra de Morgan-Snell convida o público a sentir. 

Nas obras de Morgan-Snell, homens e mulheres parecem estar num mundo espacial desconhecido sem gravidade, animais e seres humanos parecem viver num mundo harmonioso de comunicação onde Homem, Animal e Natureza são feitos do mesmo barro. Morgan-Snell modifica a própria realidade, a percepção do real. Ela ataca o desconhecido de seu próprio imaginário para construir uma realidade paralela no limite do plausível, uma realidade possível e deliberadamente oculta, um mundo sublime e misterioso.

Apesar de passados 40 anos, seu trabalho pode ser inserido no contexto atual da arte contemporânea do século XXI, um século frequentemente obcecado por um culto do corpo rodeado de erotismo. Os personagens são atletas que estão frequentemente em perspectivas aéreas, onde se misturam o profano e o sagrado enchem a tela de modo quase compacto com figuras carnais e finalidades prodigiosas que revelam desejos ocultos no olhar do espectador. É uma tendência de nossa sociedade, da qual hoje ninguém pode escapar: as obsessões do mundo contemporâneo são amplamente expostas e decodificadas. 

Espaço Retrato, instalação audiovisual desenvolvida por artistas de diferentes linguagens, será realizada em evento único no dia 08 de outubro na Praça Rio dos Campos. Um desenho sonoro e visual sobre o cotidiano do bairro da Vila Anglo Brasileira, em São Paulo. 

No sábado, dia 8 de outubro, a Vila Anglo Brasileira ganha um desenho sonoro e visual criado a partir da convivência de um grupo de artistas com os moradores da região. O projeto Espaço Retrato, desenvolvido em parceria com o Condomínio Cultural, lança uma instalação sinestésica em praça pública, um olhar sobre o cotidiano peculiar dessa vizinhança.

O bairro da Vila Anglo Brasileira, situado num fundo de vale entre a Pompéia e a Lapa, ainda mantém a atmosfera de uma pequena cidade. Com ruas estreitas, ladeiras, becos e escadões, caminhar por ali é fazer contato com uma São Paulo mais antiga. Um território resistente, a poucos minutos a pé do metrô Vila Madalena, onde existe algo de bucólico permeando espaço e tempo. O pequeno sub-distrito da zona oeste da capital paulista, ainda carrega no seu cotidiano práticas de convivência já esquecidas nas grandes metrópoles.

Apropriando-se da convivência com os moradores locais, o projeto Espaço Retrato cria uma instalação audiovisual. Sons e vídeos captados dentro das casas, nas ruas, nos bares e nos pequenos comércios são os materiais para a criação do conteúdo da instalação. Envolvendo os moradores desde o momento inicial do processo, criou-se uma relação com a proposta artística, tornando-os co-criadores dos áudios e imagens a partir do momento que o trabalho debruça-se sobre conteúdos gerados por eles.

Em parceria com o historiador Leandro Gatti, que em 2015 lançou o livro Histórias de Vila Anglo - Contadas por alguns de seus mais antigos moradores, foram escolhidos cinco pontos históricos do bairro onde serão instalados QR codes para que os interessados possam ouvir em seus dispositivos móveis, a história de cada ponto.

O resultado será apresentado em praça pública com projeção mapeada, desenho de som, vjing e DJ formando uma paisagem documental-fantástica. Recria assim a atmosfera do bairro, por meio de seis telas de projeção e seis pontos de som, onde o público poderá se deslocar e experienciar os caminhos sonoros e imagéticos da Vila Anglo Brasileira.   A ação acontecerá no dia 08 de outubro das 18h00 às 22h00 em evento único na praça Rio dos Campos, seguindo posteriormente para as dependências do Condomínio Cultural, espaço cultural parceiro da ação, localizado no bairro. 

O Condomínio Cultural, localizado na Vila Anglo Brasileira, se propõe um espaço de convivência e diálogo entre artistas e agentes culturais, mas também trata-se de um espaço onde a troca de experiências acontece e é promovida, despertando as demais relações sociais e interpessoais. O prédio, onde funcionava um hospital, foi fechado em 1995, passando por um longo processo de abandono e a partir de 2010, um grupo de artistas e gestores culturais resolvem transformar suas dependências. O antigo hospital, que também já foi grupo escolar e uma das primeiras residências do bairro, faz parte da história do local e das pessoas que o habitaram.

http://condominiocultural.org.br/

ESPAÇO RETRATO - INSTALAÇÃO AUDIOVISUAL NA PRAÇA

Dia: 08 de outubro

Horário: das 18h00 às 22h00

Onde: Praça Rio dos Campos - Vila Anglo Brasileira

ESPAÇO RETRATO - INSTALAÇÃO AUDIOVISUAL NO CONDOMÍNIO CULTURAL

Dia: De 13 a 29 de outubro

Horário: agendamento pelo e-mail condo@condominiocultural.org.br

Onde: Rua Mundo Novo, 342 - Vila Anglo Brasileira

EQUIPE DE CRIAÇÃO

Felipe Mancini - Produtor e compositor musical já realizou trilhas para longas e curtas metragens. Mixou e produziu discos dentro do cenário musical brasileiro. Como instrumentista é formado pela Escola de Música do Estado de São Paulo e tem se apresentado em importantes palcos do país do mundo.

Kako Guirado - Sonorizador (Sound design). Desenvolve projetos de som e tecnologias de áudio em instalações, performances, exposições de arte, espetáculos de música, dança e teatro. É integrante do Condomínio Cultural.

Paulo Pereira - Tem seu trabalho voltado principalmente a produção fotográfica, transitando entre o meio documental e artístico. Residente fixo no Condomínio Cultural, onde atua como produtor, além de desenvolver seus projetos autorais.

Sylvio Xico Ekman - Graduado em Arquitetura e urbanismo pela F.A.U. Mackenzie trabalha com estética cognitiva e desenvolve atmosferas híbridas, videocenografias e ambientes de imersão audiovisual, tendo realizado inúmeras experiências multimídia com o uso e manipulação da imagem e do som no espaço.

Zé Barrichello - pesquisador musical, artista visual e comunicador, produtor de áudio, música e video. Formado pela ESPM [1998] e pós graduado pela Cásper Líbero [2004], e diversos cursos livres em produção e reflexão.

Equipe de criação Felipe Mancini, Kako Guirado, Paulo Pereira, Sylvio Xico Ekman e Zé Barrichello

Colaboração Bruno Carneiro, Felipe Julian - Craca e Leandro Gatti

Design Gráfico Pedro Matallo

Assessoria de Imprensa Tati Diniz

Produção Géssica Arjona

Parceria Condomínio Cultural

Idealização Felipe Mancini e Paulo Pereira